3.06.2006

6.

A Imobiliária constituiu-se há cerca de três anos na Conservatória do IV Bairro Fiscal de Lisboa e com sede legal ainda desconhecida que viria mais tarde ganhar fachada na Rua Maria da Fonte da freguesia dos Anjos.
Das poucas dúvidas que não há do liberalismo económico é, por exemplo, este aspecto ‘edificador’ ou ‘não-edificado’ e que serve o arranque das pequenas e médias empresas cujo capital é relativo por quase fantasma.
Os actuais modelos económicos do capitalismo avançado são tão responsáveis pelo genocídio tecnológico de determinadas indústrias fundamentais, como o são pela proliferação do 'novo comércio' das zonas urbanas.
São-no pela deslocação de pólos industriais estratégicos para fora de um país, como o são pela liberalização do crédito bancário ao mais modesto contribuinte e potencial negociante.
Assim, seis meses antes de na realidade poder montar banca, Jorge já transaccionava valores de negócio para as finanças do estado.
Seis meses antes de sede reconhecida, a Imobiliária tinha lugar no espaço virtual e telecomunicado da pessoa de nome Jorge Guimarães, filho de Afonso Rebêlo Guimarães e Maria Josefa Fontana, nascidos ambos em Lisboa.
Quando não existem à posteriori premissas vocacionais no indivíduo, restam apenas duas dimensões profissionais à sua imaginação: trabalhar por conta de outrém numa profissão que não exija domínios especializados e com base nos critérios comuns do que significa o melhor salário, ambiente, local, etc, ou promover o auto-emprego nas áreas do utilitarismo social.
Jorge - único descendente do salvado dos Fontana - viria a optar pela segunda premissa. Não se apercebendo, essa funcionalidade objectiva viria a determinar-lhe a quase maioria das suas opções na vida e moldar-lhe-iam o seu carácter difuso de classe média urbana.
A Imobiliária não representava uma ambição concreta ou um ideal subjectivado por qualquer moda ou tendência, apenas uma das alternativas concretas na actual economia combalida que só conseguia proporcionar - a quem não possuísse, à partida, de capital próprio - aritméticas para o empreendedorismo fácil. Uma espécie de arquétipo económico da época, como o já foram os alvarás de táxis, as casas de frango de churrasco ou modestas tabacarias.
Jorge não possuía qualquer formação académica para lá da escolaridade inconsistente do 12º ano e dos seus conhecimentos dispersos num punhado de ciências que contribuem para a formação sociocultural do aluno mas não servem para revelar as suas aptidões profissionais que a sociedade tanto exige naquele momento que se assumam e se anunciem.
Á beira da universidade e da especialização produtiva que esta promete, não foi difícil ao empresário optar pelo rumo de um futuro adiantado.
O seu sentido era mais que óbvio e as contas fáceis para o seu raciocínio imaturo.
Não se entregando a idealismos - não porque não o desejasse mas porque a sua educação não o permitia - o finalista da escolaridade mínima imaginou o esforço financeiro que significavam 4/5 anos de um curso superior. Somou-lhe mais uns quantos de colocação incerta no mercado de emprego e fez a seguir a média anual do custo desse privilégio do desenvolvimento.
Calculou a sua taxa de esforço e subtraíu-a aos modestos rendimentos dos Fontana.
Como em qualquer família, senão a maioria delas, verificou um rácio deveras injusto e quase sempre devedor.
Nesse momento difícil coube a Jorge Guimarães apenas a consciência de si próprio. Saber se o seu desejo era dominar o mundo através das potenciais aptidões académicas ou dominá-lo enquanto elemento integrante da sua própria eficiência.
Alguns anos mais tarde - depois de várias experiências não menos interessantes - o empresário concentraria todo o seu empenho e dedicação futura ao que lhe pareceu ser a recompensa mais aproximada do que lhe era possível imaginar se tivesse continuado os estudos inteligentes da faculdade: A IMOBILIÁRIA.
O empresário recorreu ao banco democrático e foi-lhe permitida a oportunidade financeira como direito natural.
Jorge Guimarães, filho de Afonso Rebêlo Guimarães e Maria Josefa Fontana, dava início à caminhada da prosperidade proporcionada pelas novas economias do utilitarismo moderno.
Bastou-lhe apenas espreitar um jornal largado sobre um banco do Metro e onde se podia ler: «O sector da mediação mobiliária é um sector um pouco desorganizado. Há pessoas para as quais esta actividade está mais indicada do que para outras. Ainda assim, podem-se desenvolver competências e superar dificuldades... O que é importante É QUE NÃO SE NASCE EMPREENDEDOR, MAS, PELO CONTRÁRIO, PODE-SE APRENDER A SÊ-LO!»