11.14.2005


I.
- Manuela?
(...)
- Manuela?
Apareceu-lhe em passo rápido na sua direcção com uma pequena pilha de pastas vermelhas.
- Pediu-me mais alguma coisa?
Olhou para ela do cimo da gravata antracite bem acomodada pelo fato perfeito de 1,72m de altura e lembrou-se que a contratara fazia quase dois anos sem, na verdade, nunca lhe ter prestado muita atenção.
- Manuela?
Mediu-lhe a amplitude dos ombros e desceu para a cintura que desconfiava fina pelo andar e, porventura, então mais interessante. Só a conhecia daquele jeito, reservada e sob camisolas de corte clássico demasiado direito para um homem desejar perder tempo a contorná-las na esperança de alcançar a ilharga feminina.
- Sim?
- Manuela, é a Joana. Vai estagiar na agência três meses. Preciso que lhe mostre como funcionamos.

- Olá, eu sou a Manuela... a secretária do... a secretária da agência!
A grande montra rendilhada de acrílicos coloridos em forma de T oferecia casas para todos os gostos e feitios e a rua quase vazia permitia que a luz forte se abeirasse de todos e da sinalética vestida da jovem: "Mango tshirt? Mango Girl!"
- Olá, sou a Joana.
Do lado de fora da tômbola das ilusões, rostos insistiam na frustração do mercado inflacionista chegando a fazerem o que parecia contas à vida a mãos cheias. Os seus dedos mexiam sem parar, ora no sentido da CASA de papel que os seduzira, ora junto ao corpo, matraqueando para si uma soma habitada dos dedos respectivos ao seguro, à mensalidade, ao juro e à entrada.